Sonho

Ao rebuscar o sonho entorpecido
Encontro-te prostrado esperando por mim.
Recolho as tuas dores,
Os teus alentos
Almejo as tuas gotas de suor que escorrem
E tendem a guiar-me as curvas do corpo quente

Elevo a voz para que me ouças no meio de um campo,
Sinto-te fortemente a comandar-me a alma,
A usufruir vezes sem conta do meu desejo,
A pedir sem explicações o que vai dentro de mim,
A evadires-te pelas névoas quando falo

Anseio pelas longas horas de choro pulsante,
Para te arrancar cá de dentro,
Num ápice,
Poder consumir-te aos poucos soprando-me no leito,
Erguendo as mãos másculas como hastes de árvore,
De raízes maduras que não largam o corpo

Usufruo uma vez mais do teu calor,
Do beijo sôfrego que me acalenta os lábios,
Dos dedos que me contornam as mágoas num cheiro,
Das palavras silenciadas por entre os lençóis de cetim,
Enrolados no chão como promessas vãs,
Sem sentido ...

Rebusco nesse sonho o teu coração,
Mas não o encontro ...
Seguiu outros caminhos,
Noutras margens,
Noutros destinos tão longínquos e tão profundos
Que a minha alma não o consegue alcançar...